O mais influente pensador vivo completa 89 anos
Jurgen Habermas mantém o saudável hábito de conceder poucas entrevistas. O filósofo alemão, que completa 89 anos nesta segunda-feira 18, continua, porém, a analisar os temas essenciais do mundo contemporâneo em uma volumosa produção de livros e artigos. Mais influente pensador em atividade, último representante vivo do grupo original da Escola de Frankfurt, discípulo de Theodor Adorno, Habermas abriu uma exceção e recebeu em seu chalé nos arredores do lago de Starnberg, a 50 quilômetros de Munique, Borja Hermoso, do jornal espanhol El País.
Durante a conversa, Habermas tratou da filosofia moderna, das redes sociais e de política. A seguir, algumas reflexões do alemão nascido em Dusseldorf:
O papel do intelectual
A pergunta nostálgica de por que já não há mais intelectuais está mal formulada. Eles não podem existir se não há mais leitores aos quais continuar alcançando com seus argumentos.
Internet e redes sociais
É possível que com o tempo aprendamos a lidar com as redes sociais de forma civilizada. A internet abriu milhões de nichos subculturais úteis nos quais se troca informação confiável e opiniões fundamentadas. Pensemos não só nos blogs dos cientistas, mas nos pacientes que sofrem de uma doença rara e entram em contato com outros na mesma condição em outro continente para se ajudar mutuamente com conselhos e experiências. Sou velho demais para julgar o impulso cultural que as novas mídias vão gerar. O que me irrita é o fato de que se trata da primeira revolução da mídia na
história da humanidade que serve antes de tudo a fins econômicos, e não culturais.
Filosofia
Sou da antiquada opinião de que a filosofia deveria continuar tentando responder às perguntas de Kant: o que é possível saber?, o que devo fazer?, o que me cabe esperar? e o que é o ser humano? Não tenho certeza, no entanto, de que a filosofia, como a conhecemos, tenha futuro. Atualmente segue, como todas as disciplinas, a corrente no sentido de uma especialização cada vez maior. E isso é um beco sem saída, porque a filosofia deveria tentar explicar o todo, contribuir para a explicação racional de nossa forma de entender a nós mesmos e ao mundo.
União Europeia
A introdução do euro dividiu a comunidade monetária em norte e sul, em vencedores e perdedores. A causa é que as diferenças estruturais entre as regiões econômicas nacionais não podem ser compensadas se não se avança no sentido da união política. A desigualdade aumentou em todos os nossos países e erodiu a coesão populacional. Os que conseguem se adaptar aderem ao modelo econômico liberal que orienta a ação em benefício próprio. Entre os que se encontram em situação precária, espalha-se os medos regressivos e as reações de ira irracionais e autodestrutivas.
Confira algumas obras fundamentais do (e sobre) o filósofo alemão.:
Técnica e ciência como ideologia:
Uma discussão pública, sem entraves e livre de dominação acerca da adequação e desejabilidade dos princípios e normas que orientam a ação, […] é o único médium no qual algo como uma “racionalização” é possível.
O autor procura oferecer uma introdução a uma obra debatida no pensamento contemporâneo. Trata-se de um fio condutor para percorrer os diferentes caminhos abertos pelas obras do filósofo Habermas.
Segundo volume da Coleção Habermas, este texto reproduz um discurso do filósofo proferido cerca de um mês após o 11 de setembro de 2001. Embora circunstancial, é de grande importância no conjunto da obra do pensador que, ao retomar o clássico tema fé e saber, adota uma nova expressão – “pós-secular” – que imprime mudanças em sua teoria da modernidade e torna-se presente em suas obras posteriores.
“Não foi o perigo do terrorismo internacional que dividiu o Ocidente, mas uma política do atual governo norte-americano que ignora o direito internacional, marginaliza as Nações Unidas e mantém o rompimento com a Europa. O que está em jogo é o projeto kantiano de eliminação do estado de natureza entre os Estados. Os espíritos não se dividem em relação aos objetivos políticos que estão em primeiro plano, mas em relação a um dos maiores esforços para a civilização do gênero humano.”
Um dos principais eixos temáticos desta coletânea diz respeito ao neoconservadorismo. O assunto abre e perpassa todos os textos aqui reunidos, que remetem ainda a diferentes aspectos da defesa de Habermas da continuidade do projeto de modernidade. Sem abandonar a dimensão teórica, o filósofo, conhecido por seu engajamento político, coloca-se como “contemporâneo político” e assume posições acerca de questões públicas candentes ainda hoje – escrita em 1985, a obra reflete sobre problemas e tensões de uma década crucial para a sobrevivência e maturação do projeto democrático não apenas na Alemanha.
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